Panna
Compreensão
NAMO TASSA BHAGAVATO ARAHATO SAMMABUDDHASA
HOMENAGEM AO BENDITO,
O ESPIRITUALMENTE PREFEITO, O HARMONIOSAMENTE
DESPERTO.
Quando falamos dos Ensinamentos do Buddha, devemos recordar que há
distintos níveis nos ensinamentos e há distintos níveis de prática. Por
isso, não quer dizer que todos devem praticar o mesmo nível.
Na nossa série de palestras, primeiro falamos de 'Devoção' [Saddha],
esse é o nível básico de prática... 'Devoção' é a devoção ao ideal de
perfeição. Nesse nível não nos tornamos perfeitos, mas estamos pensando
nesse ideal de perfeição e querendo tornar-nos perfeitos. É aí que
oferecemos a nossa admiração e respeito a esse ideal. E o ideal é visto
como o [estado de] 'Buddha'. Então o 'Buddha' torna-se o ideal e a meta
na vida, mas não alcançámos essa meta ainda, é um aspirar a essa meta.
No nível seguinte, tivemos a prática da ' boa conduta' [Sila], que é o
primeiro passo para nos tornarmos bons, praticar a boa conduta. Aqui
estamos tentando corrigir a parte da nossa conduta, onde não entramos
em conflito com outras pessoas, e fazemos coisas consideradas boas,
justas, e esse tipo de coisas… boas relações...
De seguida passámos ao nível seguinte, que é a 'purificação da mente'
[Samadhi]. Purificar a mente, é o que leva à verdadeira felicidade.
Este é um nível mais alto de prática, é a terceira etapa. Nem todos são
capazes de praticar esse nível. Principalmente, aqueles que renunciam à
vida mundana materialista, e aqueles que se convertem em monges ou
monjas, são as pessoas que são capazes de praticar isto completamente.
A pessoa mundana comum não é capaz de alcançar os Quatro Jhanas.
Alcançar os Quatro Jhanas é um nível elevado de prática; eu, e aqueles
que praticam a esse nível, são chamados 'místicos'; estes 'místicos'
encontram-se num nível mais elevado de prática.
E inclusive um nível mais elevado que esse, é o nível das pessoas
'iluminadas' ou 'despertas'. O 'despertar' para as realidades da vida.
Esse é o nível que abordaremos agora.
Solução Humanista.
Mesmo quando conseguimos estar felizes a purificar e a acalmar a mente,
e conseguimos que a nossa mente esteja tranquila e feliz, mesmo assim
temos um problema; e esse problema é:
Começamos a envelhecer, começamos a adoecer e a morrer.
Todas as religiões falam de 'felicidade eterna' e 'vida eterna'; Por
que falam de 'felicidade eterna' e 'vida eterna'?
Porque, a nossa felicidade é impermanente, e a vida é impermanente. E
este é um problema que as pessoas tentaram resolver mediante a prática
da religião; e para a maioria das religiões, a solução encontra-se na
vida seguinte, depois da morte. Crêem que podem ir para o 'céu' onde
terão 'felicidade eterna' e 'vida eterna'.
Essa é só uma crença, e uma esperança. Está baseada na esperança e na
crença.
Mas aqui, o Buddha fala deste mesmo problema, mas a solução não se
encontra na vida seguinte. É aqui e agora, pode ser resolvido no
presente.
E a forma de resolver isto, não é tomando refúgio em algum poder super
natural externo, mas sim tomando refugio em nós mesmo...
Esta é a forma ajuizada de o fazer. Não é o menino que sai em busca da
ajuda de outros. É a pessoa prudente que começa a ajudar-se a si mesmo
ou mesma. É a auto-suficiência, o principal factor da maturidade.
Esta é a forma de praticar a religião de forma auto-suficiente, que é a
forma humanista. A forma humanista de praticar a religião; em vez da
forma teísta, em que começamos a depender de um 'deus' externo, do
'criador do mundo', ou algum ser super natural.
A forma humanista é: fazer uso da inteligência humana e de esforços
humanos, energia humana... para resolver os problemas.
Hoje, o mundo está-se movendo gradualmente para a forma humanista. É
por isso que as pessoas tendem a renunciar aos seus dogmas religiosos e
começam a pensar por si mesmos, e também a depender da ciência e das
tecnologias modernas para resolver os seus problemas. Essa é a forma
humanista.
E à medida que o ser humano avança e evolui, a religião automaticamente
torne-se humanista...
Hoje, o Buddhismo é essa religião. O Buddhismo não é outra religião
entre outras religiões, é uma crítica à religião; onde a religião é
examinada e compreendida.
E desta maneira, o problema religioso, que é o problema da existência
(devido a que existimos é que temos este problema), o problema do
existir é o que a religião tenta resolver.
O Problema de ‘Existir’.
O 'problema da existência' é o que o Buddha chama 'Dukkha' o
"Sofrimento"; e isso é: que todos nascemos, e desde o momento em que
nascemos começamos a envelhecer, no processo de envelhecimento… no
principio o menino começa a tornar-se adulto, mas isso não termina aí,
vamos mais além disso e começamos a envelhecer e por fim a adoecer e a
morrer.
Este é 'O Problema'. E isso não nos agrada.
As pessoas celebram os seus aniversários, mas não celebram o dia da sua
morte. Mas o problema é que se nascemos, temos sempre que morrer
também. Não nos damos conta disso. Quando celebramos o aniversário não
nos damos conta de que começamos a aproximar-nos da morte. A única
razão porque poderíamos celebrar o aniversário, seria celebrar o facto
de não termos morrido ainda... termos sido capazes de sobreviver, por
tantos anos... mas mesmo assim, isso mesmo, torna-se a causa da nossa
infelicidade.
Tudo isto quer dizer que: a nossa vida é impermanente.
Não só a vida, tudo no mundo é impermanente.
O Buddha assinalou então, que a forma de resolver este problema é
compreender a 'existência'. É por não compreendermos o que chamamos
'existência' que isto se tornou um problema.
Todos cremos que estamos existindo; mas é isso um facto? Ninguém
questiona isso.
Se algo está continuamente mudando, como por exemplo uma onda no
oceano... uma onda está mudando constantemente. É uma mudança!
Então se as coisas estão mudando continuamente, acaso existem realmente?
Esse é o problema.
Nos tempos antigos os filósofos falaram disto, da mudança. O que viram
foi que; pensaram que havia algo permanente na mudança. Usaram duas
palavras para falar disto: uma era 'Existir' e a outra era 'Tornar-se'.
A mudança foi chamada 'tornar-se' e a permanência foi chamada 'existir'.
Se temos um anel de ouro, podemos derreter o ouro e converte-lo noutra
coisa; quer dizer, o anel desapareceu e outra coisa tomou o seu lugar:
"Houve mudança". Mas "há algo que não mudou: o ouro". "O ouro não mudou"
Então essa mudança foi chamada 'tornar-se'. Quer dizer, "o anel
'tornou-se' noutra coisa".Então a mudança era um 'tornar-se'. Mas o
ouro ainda estava aí como ouro; e então esse 'aspecto permanente' era
visto como 'existir'.
Agora, quando os eruditos ocidentais vieram estudar o Budismo viram que
o Buddha falava de impermanência, e quando viram que o Buddha falava de
impermanência, pensaram"está falando de 'tornar-se'".
A palavra que o Buddha usou era 'Bhava'. A palavra 'Bhava' é 'existir',
não 'tornar-se'. Mas estes tradutores pensaram que, devido a que o
Buddha falava de impermanência, não podia estar falando de 'existir',
deve estar falando de 'tornar-se'...traduziram a palavra 'Bhava' como
'tornar-se', mas isto foi um erro.
O Buddha estava falando de 'existir' aqui. 'Existir' para o Buddha não
era uma realidade, 'Existir' era um conceito... o Buddha o via como um
conceito que formamos.
Estamos mudando, desde o momento que nascemos estamos num processo de
mudança. Mudamos. A pessoa que nasce não é a mesma pessoa que morre. O
corpo mudou, a mente mudou, tudo mudou. É outra coisa.
Mas, não pensamos assim!
Pensamos que é a mesma pessoa que morreu!
Então, esse conceito de 'existir', que é uma 'continuidade de
existência', é isso que está criando o problema!
Devido a que 'eu existo’, então 'eu nasço', logo 'eu envelheço', e logo
'eu morro'. Então o 'eu' está aí sempre presente. O 'existir'. E
enquanto pensarmos dessa forma estamos pensando então na mudança e na
impermanência do 'nosso existir'.
É assim que nos tornamos infelizes a este respeito, porque não queremos
isso... já que 'existimos' queremos continuar 'existindo'!
E queremos continuar 'existindo' jovens, não queremos continuar
'existindo' como velhos... esse é o problema.
Então, 'Existir' é um conceito ESTÁTICO.
UM conceito ESTÁTICO NUMA REALIDADE DINÂMICA.
Nesta realidade dinâmica tentamos apegar-nos a um conceito estático. O
qual é uma ilusão!
Emoção, personalização, personalidade.
O conceito estático é na realidade EMOCIONAL. É a emoção que criamos da
existência como existir. Enquanto que, quando pensamos e raciocinamos,
vemos a impermanência de todas estas coisas... não há 'existir'
realmente!
Mas a nossa emoção nos diz "Não, Sim há um 'existir'" "Quero existir"!
Então não podemos enfrentar a morte. E quando não podemos enfrentar a
morte, temos que crer de alguma forma que "quando o corpo morre, eu
ainda permaneço"... Talvez ir ao céu ou ao inferno, mas permanecer de
alguma maneira...
Então, queremos essa permanência. O qual é totalmente emocional.
E na realidade o que está ocorrendo é que a nossa emoção está entrando
em conflito com a nossa razão. A emoção e a razão estão em conflito. E
quando a emoção e a razão estão em conflito. O que é que acontece? A
emoção ganha sempre.
Isso é o que está acontecendo...Esse é o ponto...E portanto, como
resultado, tornamo-nos infelizes; porque a emoção está sendo frustrada,
decepcionada pela realidade das coisas, e então tornamo-nos infelizes...
O Buddha assinalou que esta emoção está dizendo ‘isto é meu’... o
apego… a emoção aferra-se ao corpo e diz "este corpo é meu". "Este
corpo é meu, esta mente é minha, estas sensações são minhas, esta
consciência é minha, estes pensamentos são meus..." começamos a
personalizar.
E o que chamamos o 'si mesmo' é a soma total de tudo aquilo a que
chamamos 'meu'. Tudo o que "é meu", foi personalizado!
Por meio do processo de personalização, chegamos a uma personalidade.
Essa personalidade é o 'eu mesmo'. Devido a que personalizei. Se não
personalizar o corpo, se não personalizar a mente, se não personalizar
as 'minhas sensações', os 'meus pensamentos', a 'minha consciência',
então não haverá personalidade!
A personalidade veio a ser, mediante o processo de personalização!
E porque é que personalizo estas coisas? Devido à EMOÇÃO. É a emoção
que está fazendo a personalização.
Essa emoção é o que se chama 'Tanha', usualmente traduzido como 'Ansia'.
Tanha é a Emoção. “Existo”.
É essa emoção que efectua a personalização. E a personalização resulta
na personalidade. E uma vez que a personalidade veio a ser, "eu vim a
ser".
"Eu venho a existir" não pelo nascimento, "Eu vim a existir" devido à
personalização. Isto é o importante a compreender. Normalmente pensamos
que "eu vim a existir porque nasci".
"Eu" não nasci. O corpo nasceu!
O nascimento do corpo é simplesmente o nascimento do corpo. Mas o
nascimento do corpo tornou-se o Meu nascimento porque personalizei o
corpo! Se não tivesse personalizado o corpo, o nascimento do corpo não
podia ser o Meu nascimento. E se não personalizar o corpo, que o corpo
envelheça não é o Meu envelhecimento! E se não personalizar o corpo, a
morte do corpo não é a Minha morte.
Verão, que, o que quer que seja que ocorra ao corpo, dizemos "isto
ocorreu-me a mim". Porquê? Porque o personalizei.
Este processo de personalização é o que se chama 'Upadana', usualmente
traduzido como 'Apego' ou 'Aferramento'... isto não é simplesmente um
'apego' ou 'aferramento', é personalização. E por meio deste processo
de personalização, a personalidade vem a ser. O "Eu" vem a ser.
É por isto que Descartes disse: '[Eu] Penso, logo existo’.
Naturalmente, quando pensas "Eu penso", se dizes "Eu penso" claro está,
que o seguinte é "Eu sou". "Eu penso" é a personalização do processo de
pensamento, quando dizes "penso", e "logo existo" é a personalidade
vindo a ser...
O importante é que a única forma de sair deste sofrimento, é aprender a
DESPERSONALIZAR o que foi personalizado.
Emoção.
Como disse antes, isto não pode fazer-se mediante o simples pensamento
racional, porque a emoção está envolvida nisto!
É necessário desfazer-se da emoção antes que possamos inclusive
compreender isto adequadamente.
A emoção deve ser compreendida. O que é a emoção?
A emoção não é algo que está construída dentro de nós. Esse é um erro
que Sigmund Freud cometeu. Ele pensou que a emoção é algo inato e que
não podemos fazer nada quanto a isso, mas que devamos encontrar algum
tipo de expressão para esta emoção; que devemos satisfazer a emoção de
alguma outra forma...
E além disso deu-se conta de que nem sempre podemos satisfazer ou
gratificar esta emoção... e então a única coisa que se podia fazer era
'Sublimar' a emoção, isso quer dizer, converter a emoção noutra coisa
que seja socialmente aceitável.
Se estou irado, essa ira é uma emoção, e quero matar uma pessoa porque
estou irado... mas isso não é algo bom, então temos que sublimá-lo para
expressá-lo de boa maneira...
Isso é o que se chama 'Sublimação'. Essa foi a solução que ele
encontrou. Mas o problema é que isso, não soluciona realmente o
problema.
Ele escreveu um livro chamado 'A civilização e o seu descontentamento'.
Ser civilizado é sublimar as emoções. Assim é como nos tornamos
civilizados. Mas ao tornarmo-nos civilizados tornamo-nos pessoas
infelizes porque estamos descontentes. Não há real contentamento nisso.
Mas o Buddha resolveu isto de forma distinta. Isso é importante de
compreender.
O que o Buddha assinalou foi que, esta emoção não é algo construída
dentro de nós, procurando satisfação ou gratificação...
A emoção é algo que vem de fora. Isso é o importante. Não é algo que
vem de dentro e sai para o exterior; Mas sim que é algo que começa no
exterior e entra dentro de nós.
Então, enquanto Freud usou a palavra 'Instinto', que é a emoção
construída dentro de nós, o Buddha usou a palavra 'Asava'.
'Asava' também é muito mal traduzida hoje. Encontra-se com frequência
traduzida como 'Chaga'. Que é uma chaga? É como uma ferida o algo
assim... vem da raiz 'Sru'. Sru é Fluir. É um fluir. Asava quer dizer
"Fluir para dentro". É por isso que alguns traduzem Asava como
'Influxo', mas eu traduzo Asava de forma mais significativa. Isto é,
'Influência'.
Influência também é um fluir para dentro. Então, 'Asava' é na realidade
um fluir para dentro, e como é que flui para dentro?
Simplesmente começa com a estimulação dos sentidos: Quando os sentidos
são estimulados, vão impulsos nervosos do órgão sensorial ao cérebro,
isso também é um fluir para dentro...
De seguida, o cérebro começa a tomar uma decisão acerca do que foi
visto... primeiro há o 'ver', o processo de percepção. E de seguida,
começamos a interpretar o que foi visto mediante o processo de
conceptualização, e uma vez que tenhamos interpretado o que foi visto,
então de acordo com essa interpretação é enviada um mensagem às
glândulas, e as glândulas começam a segregar uma hormona, e essa
hormona começa a fazer certas partes do corpo hiperactivas, e outras
hipo activas, e desta maneira, ocorre um mudança em todo o corpo. Isso
é o que se chama uma 'Excitação Emocional'.
Se é irritação, flui adrenalina ao sangre.
Se vem na forma de um desejo sexual, uma hormona sexual flui ao sangre.
É assim que ocorre!
Tudo começa de fora. Da estimulação dos sentidos. E quando os sentidos
são estimulados, toda esta reacção ocorre.
E quando esta emoção foi despertada, ocorre TENSÃO nos músculos. Os
músculos tornam-se tensos.
E esta tensão é como o arco e a flecha. Tiras de corda e a flecha, que
se torna mais e mais tensa; e quanto mais tensa se põe, mais a flecha
se quer soltar... e então toma lugar a ACÇÃO.
De forma similar, toda esta reacção do organismo resulta em acção, que
é a conduta...
Então, se a emoção é algo que vem de fora é possível detê-la. É
possível deter essa reacção, não temos que ficar tentando satisfazer ou
gratificar as emoções, o importante é aprender a deter a reacção e
acalmar a mente.
Calma e Tranquilidade: a Solução.
Então, a calma e a tranquilidade da mente é a SOLUÇÃO do PROBLEMA. A
TRANQUILIDADE da MENTE era a solução do Buddha, não a Sublimação. Essa
é a diferença.
E com a Tranquilidade vem a relaxação dos músculos do corpo também.
Isso é o importante a compreender.
Então, a Excitação Emocional leva à personalização, e a personalização
leva à personalidade, e a personalidade leva ao Nascimento,
Envelhecimento, Enfermidade e Morte...
Todo o Sofrimento vem daí.
É por isso que o Buddha disse que Tanha é a causa do sofrimento... que
é a Emoção... e a emoção pode ter um fim mediante a técnica apropriada
que é a Via Super normal Óctupla...
Devemos ir mais além do normal, para um estado super normal, para
resolver o problema. Este é o fim deste problema de 'Dukkha' o
'sofrimento'.
E isto só se pode fazer, mediante o acalmar a mente, mas a mente não
pode ser acalmada sem acalmar a conduta, então a primeira coisa a fazer
é acalmar a conduta.
E a conduta não pode ser acalmada se a nossa meta não é a calma. Se a
nossa meta é simplesmente ir atrás dos prazeres sensoriais, não podemos
acalmar a mente... nem a conduta...
É por isto, que este problema da existência só pode ser resolvido
avançando gradualmente: primeiro a devoção ‘Saddha’, 'Sad' é 'o que é
bom e verdadeiro'; 'Dha' é 'manter', isto é a 'Devoção', A seguir o
controle da conduta, a vida boa, 'Sila'; e logo a seguir vem 'Samadhi'
que é a pureza e tranquilidade da mente. E depois de Samadhi vem a
compressão do problema.
Esta compressão do problema é na verdade, a SOLUÇÃO do problema.
Quando tivermos compreendido que não há 'existir', onde pensamos que há
'existir', isto é uma mudança de paradigma.
Mas neste processo de fazermo-nos conscientes desta delusão, na
realidade é uma maturidade da nossa consciência, a consciência deve
evoluir.
Normalmente, todo o animal é simplesmente consciente de 'um mundo',
vemos, ouvimos, cheiramos, saboreamos, tocamos... por meio dos sentidos
fazemo-nos conscientes de 'um mundo', isto é a consciência... mas essa
consciência está ocorrendo sem o nosso conhecimento. Simplesmente está
ocorrendo. Está ocorrendo devido à presença das condições necessárias.
Quando as condições necessárias estão presentes, ocorre. Quando as
condições necessárias não estão presentes, não ocorre. Nós não estamos
fazendo nada... Por outras palavras, é um processo inconsciente.
É de um estado de inconsciência que a consciência vem a ser.
Então, se queremos deter este processo devemos fazer-nos conscientes
dele. Somente fazendo-nos conscientes dele, é que este processo pode
ser detido. Isto é o importante a compreender.
Todo o propósito desta prática é tornarmo-nos consciente do processo da
própria consciência. Não é tornarmo-nos consciente de algo que vem de
fora. É tentar tornarmo-nos consciente do processo da consciência.
Essa é, a mudança de paradigma.
Esta mudança de paradigma não pode ocorrer automaticamente. Devemos
passar por esse processo, que o devemos fazer conscientemente. Isto é o
crescimento da consciência; a consciência cresce completamente, só
quando a consciência se torna consciente de si mesma. Este é o ponto
último na evolução da consciência.
Quando falamos do Buddha, falamos de uma pessoa que evoluiu ao nível
mais alto, em que uma pessoa se tornou consciente da consciência.
Esse é o significado de 'Nirvana'.
Nirvana não é simplesmente acalmar a mente. Esse 'simples' acalmar a
mente é 'Samadhi'. Mas quando falamos de Nirvana, estamos falando do
crescimento e evolução da consciência ao ponto em que esta consciência
se faz consciente de si mesma.
E quando isso acontece, essa excitação ou agitação emocional não volta
mais.
Isto é, tornar-se calmo enquanto se está activo. Há acção, não é
inactividade. Enquanto que no Samadhi, tudo está inactivo... a calma...
mas podemos estar activos, e por sua vez estar calmos por dentro,
porque a excitação emocional nunca ocorre...
Isto é o importante a compreender.
E neste procedimento, o processo perceptual e o processo conceptual
estão ocorrendo, mas o processo emocional deteve-se... e o processo
perceptual e conceptual é consciente de si mesmo. E devido a que o
processo perceptual é consciente de si mesmo, vê através do processo, e
portanto, quando percebes um livro por exemplo, há um livro à minha
frente, e percebo o livro, como normalmente as pessoas o fazem, mas por
sua vez o que estou percebendo não é só o livro, o que estou percebendo
é a percepção do livro.
E então, em vez de dizer, "há um livro na minha frente", digo, "há o
ver um livro"...
Bhante Punajji